A CRISE

Vivemos um momento da humanidade em que tudo parece estar a entrar em colapso. Tudo aquilo em que nos apoiamos para viver e criar a nossa existência está em crise: a economia, a cultura, a educação, a política, a própria Natureza se mostra sufocada. Todo o Planeta vive esse sufoco, que não sabemos como resolver, como voltar a respirar fundo sem perder tudo aquilo a que estamos ligados e que consideramos fundamental para a nossa vida.

Historiadores e analistas consideram este momento parte de um ciclo, como algo que surge de x em x tempo para reequilibrar o sistema e trazer a novidade. A crise é o momento que proporciona um novo começo.

Se considerarmos a teoria Yin-Yang e toda a filosofia tradicional chinesa encontramos também esta postura perante a existência. Existem dois pólos opostos em constante mutação que tendem sempre ao equilíbrio. Nesse sentido, dentro de cada pólo encontramos a semente do outro, de modo a que se possam gerar constantemente e tendam a esse equilíbrio.

Ao termos em conta estas perspetivas, não temos muito a temer em relação a esta crise. É um momento limite que dará lugar a outro início e de novo se gerará todo o ciclo. No entanto, o que nos diz respeito é esse mesmo novo ciclo, pelo qual somos totalmente responsáveis: quer pelo seu início, ou geração, quer pelo seu desenvolvimento, pelo seu movimento.

Se analisarmos mais profundamente e com uma certa distância pessoal esta crise, constatamos que nos encontramos perante o colapso de todas as estruturas materiais que desde há alguns séculos têm vindo a crescer e a evoluir em detrimento das estruturas espirituais. Se tomarmos como espaço de tempo de análise os últimos dois mil anos, ou seja, o período decorrido desde o nascimento de Jesus, deparamo-nos com anos de crescente aumento do poder religioso marcado pelo dogma e pela distanciação do entre o Céu e a Terra (ao contrário do que Jesus nos ensinara), para séculos controlados pelo poder científico e tecnológico, em que a racionalidade aniquila o poder criativo humano e o submete à produção homogeneizada. Estes dois momentos, que se têm como opostos entre si, sendo que o segundo declara salvar-nos da ignorância do primeiro, são mais idênticos do que possa parecer. O que caracteriza estes dois períodos é um comportamento humano que tem por base o apego material, o medo da morte, a necessidade do homem de controlar os seus semelhantes, ou seja, de alimentar o seu ego.

Assim, se o ego dos religiosos da época medieval atormentava as populações em prol da ganância e da avareza, o ego dos cientistas da época moderna controla-os pela arrogância intelectual, pelo poder que lhe é instituído como criadores de bens materiais de alta tecnologia e inovação.

Para o homem comum, a situação em que se encontra é sempre de estar a ser controlado, de viver prisioneiro de leis e conceitos que mantêm o mundo numa ordem que serve a alguns e que é o símbolo de um falso poder sobre a existência. Pois esse poder, esse poder que todos nós procuramos é a incansável busca do ego pela eternidade, o poder absoluto de existência.

O materialismo em que nos encontramos retrata esse ego, insaciável ego que busca sempre mais coisas, mais apegos, mais controlo, mais poder. E é este mesmo ego que está neste momento em crise, em colapso.

Encontramo-nos num momento da existência humana de iminente evolução espiritual, ou seja, de dar um passo além do ego e reconectarmo-nos com o Espírito. Todo o Universo se encontra em evolução, em expansão, e esta afeta o planeta Terra e os seus habitantes, como parte do Cosmos, pela necessidade de reconexão com o Espírito Universal, com o Divino em nós, Fonte de Eternidade, de Força e de Poder.

O Poder que o ego almeja não lhe permite nunca atingir o Poder Divino devido à sua dimensão terrena: o ego é o que nos conecta à materialidade física e que nos permite a experiência de individualização e livre-arbítrio que o Espírito Universal nos faculta como desafio evolutivo.

Porém, envolvemo-nos de tal modo com a materialidade que perdemos a ligação (superior) com o Espírito e pela natureza avarenta e animal do ego fomo-nos fechando cada vez mais num estado mental de sobrevivência e, por isso, de medo da morte e do desconhecido que nos é o Espírito. Assim, a crise mundial e de Portugal, em particular, é a crise desse mesmo ego que se sente pressionado com o desafio de uma evolução espiritual.

O caminho interior vai dar sentido ao trabalho material. Vai conectar-nos com o Propósito na Terra e conduzir-nos numa jornada de missão que implica uma atuação física, um trabalho que nos conecte à Terra, à materialidade, não num sentido avarento ou ganancioso, mas num sentido de Propósito, de dever para com o Planeta e os outros seres que nos acolhem e com quem partilhamos a existência. Todos nós temos que contribuir para a Evolução que do Planeta quer dos outros seres e essa contribuição faz-se, no nosso caso de humanos, pela ação material e intencional que temos de trazer às nossas vidas.

Não somos mais um funcionário público kafkiano de um Estado material. Chegou a hora de sermos o Ser Humano, co-criador com Deus da realidade.

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